A era das redes sociais e o aumento das manifestações narcisistas

As redes sociais tornaram-se parte integrante da vida moderna

Hoje nos comunicamos, trabalhamos, nos divertimos e até formamos nossa autoestima através das telas dos smartphones. No entanto, junto com as oportunidades, surgiu uma nova tendência sociopsicológica — o aumento das manifestações narcisistas. Pesquisadores têm associado a atividade nas redes sociais a mudanças na autoimagem e à dependência da validação externa.

O que é narcisismo e por que se fala tanto sobre isso

O termo “narcisismo” vem do mito grego de Narciso, que se apaixonou pelo próprio reflexo. Na psicologia, o conceito foi desenvolvido por Sigmund Freud e Otto Kernberg. Atualmente, o narcisismo é entendido como um traço de personalidade associado à necessidade excessiva de reconhecimento, atenção e admiração dos outros.

A Associação Psiquiátrica Americana define o transtorno de personalidade narcisista como um padrão persistente de pensamento e comportamento caracterizado por um senso exagerado de importância, necessidade de admiração e falta de empatia. No entanto, é importante distinguir o narcisismo patológico das tendências narcisistas comuns, que podem ser amplificadas por fatores ambientais — como o ambiente digital.

Redes sociais como espelho e amplificador da autoestima

Plataformas como Instagram, TikTok e Facebook criam um espaço único onde as pessoas comparam constantemente suas vidas com as dos outros. Um estudo publicado no PubMed mostrou que o uso intenso de redes sociais está associado a maior autocentrismo e dependência do número de curtidas. Quanto mais selfies uma pessoa publica, maior a probabilidade de desenvolver atitudes grandiosas e autoestima instável.

Exemplo da vida real: Mariana, 27 anos, admite que começa todas as manhãs verificando quantas curtidas recebeu. Quando são menos do que o habitual, seu humor piora. O que parecia um hábito inofensivo acabou se tornando uma fonte de insegurança, já que sua confiança passou a depender das reações dos outros.

Mecanismos do narcisismo digital

Psicólogos identificam vários mecanismos pelos quais as redes sociais reforçam traços narcisistas:

Mecanismo Descrição Consequências
Comparação constante Comparar a própria vida com versões idealizadas das vidas de outros usuários Redução da autoestima, inveja, ansiedade
Recompensa por curtidas Cada curtida funciona como uma pequena dose de dopamina Dependência de aprovação externa
Criação de uma imagem digital Filtrar a realidade através de postagens e fotos cuidadosamente selecionadas Distanciamento entre o “eu” real e o “eu” virtual

Pesquisas e dados científicos recentes

De acordo com um estudo publicado no Journal of Personality and Social Psychology (APA), usuários que dedicam mais atenção à aparência e à autopromoção apresentam níveis mais altos de narcisismo. A análise mostrou que o número de postagens com fotos pessoais e conquistas está diretamente correlacionado com o grau de grandiosidade da personalidade.

As plataformas utilizam algoritmos que adaptam o conteúdo ao comportamento do usuário, intensificando o chamado “efeito espelho”: quanto mais uma pessoa se concentra em si mesma, mais conteúdo semelhante vê, reforçando o sentimento de importância e exclusividade.

Opinião do autor: As redes sociais não criam o narcisismo — apenas lhe dão palco. O ambiente virtual amplifica traços já existentes, transformando uma necessidade natural de reconhecimento em uma busca interminável por atenção.

A linha entre autoestima saudável e narcisismo

É importante compreender que nem toda demonstração de confiança é narcisismo. A autoestima saudável baseia-se em valores internos, não na quantidade de curtidas. A diferença está na fonte da validação: quando a satisfação vem das próprias ações e não da reação do público, há maturidade emocional.

Pesquisas da Harvard Health destacam que o desejo excessivo de afirmação pode tornar a autoestima frágil. Pessoas assim dependem de elogios e reagem de forma dolorosa à crítica.

Como a cultura digital muda nossa forma de pensar

As redes sociais promovem uma percepção superficial: fotos e vídeos curtos moldam visões simplificadas sobre si e os outros. Muitas pessoas passam a se enxergar como “marcas” e não como indivíduos, o que alimenta o perfeccionismo, a ansiedade e a instabilidade emocional.

Exemplo da vida real: Um influenciador conhecido por suas fotos “perfeitas” confessou sentir constante estresse para manter essa imagem impecável. Quando publicava algo mais natural, perdia seguidores — e isso abalava profundamente sua confiança.

Impacto sobre os jovens

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), adolescentes são especialmente vulneráveis à influência digital. Essa fase de formação da identidade coincide com a busca por aprovação, e as redes sociais tornam essa busca pública. Ver o sucesso alheio constantemente pode gerar um sentimento de insuficiência e aumentar a ansiedade.

É possível usar as redes sociais sem prejudicar a saúde mental?

Especialistas da Mayo Clinic recomendam o uso consciente — fazer pausas digitais periódicas, filtrar conteúdos e limitar o tempo online. É mais saudável focar no propósito da comunicação, e não nas reações: usar as redes sociais como ferramenta de conexão, não de autoafirmação.

Pergunta: Estar ativo nas redes sociais é sempre sinal de narcisismo?
Resposta: Não. As pessoas podem ser ativas online por razões profissionais, criativas ou sociais. O narcisismo aparece quando o valor pessoal é definido apenas pela aprovação online.

Pergunta: O narcisismo pode ser “curado”?
Resposta: Não é uma doença, mas um traço de personalidade. No entanto, a autoconsciência, a psicoterapia e o desenvolvimento da empatia podem suavizar seus efeitos e fortalecer a autoconfiança interna.

Como restaurar o equilíbrio entre o digital e o real

O primeiro passo é reconhecer que atenção virtual não é amor nem respeito. Relações reais, apoio mútuo e experiências compartilhadas proporcionam um senso de valor mais duradouro. Práticas como gratidão, voluntariado, esportes e conversas presenciais ajudam a restabelecer o equilíbrio entre o “eu online” e o “eu real”.

- Quais perfis você mais visita? Eles te inspiram ou te deixam ansioso? - Quando foi a última vez que você ficou feliz sem compartilhar nada online? - E se as curtidas desaparecessem amanhã — a forma como você se expressa mudaria?

Declaração de responsabilidade: Este artigo tem caráter informativo e educativo e não substitui a orientação de um psicoterapeuta ou psicólogo clínico. Se você sente exaustão emocional ou dependência de redes sociais, procure a ajuda de um profissional qualificado.

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